Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
 
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
 
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Bento Teixeira:

Oh nobre Gregório, essa obra retrata muito bem a sua história. Um ex-vigário, exímio crítico no perído Barroco, de tantas inconstâncias e dúvidas. É certo que não cobres do Senhor proteção alguma diantes de teus pecados.

Sebastião da Rocha Pita:

Caro Boca do Inferno, nessa obra se percebe a forte onda de religiosidade que marcou o Barroco, e tanto confundiu nossas cabeças em vida. É interessante quando indicas que a "ovelha perdida" rendeu glórias ao senhor e que serias a "ovelha desgarrada". És um homem de muito coragem ao desvincular-se do catolicismo a fim de escrever críticas. Tua grandeza merece reconhecimento, portanto não se martirize.